terça-feira, 30 de outubro de 2012

9

Esta noite eu tive um sonho, amor
Um sonho desgovernado
Aparente, eu esquecia a dor:
Uma flor, um livro embrulhado.
Mas o tema, diz a sorte,
É amaldiçoado
Sonhar com amor:
azar nº9
Final marcado.

domingo, 7 de outubro de 2012

lida

A minha alma amanheceu turva. A minha e a dos meus irmãos. Tudo em volta de nossas camas é saudade das músicas que nos ninava nas aulas de desenho da tia Ivete-  pré escolar  turma I. Escola Mul. Ermelinda de Lucena Barbosa, 1993.
A infância é doce, tão doce  quanto as manhãs em Taperinha, quanto o toyotinha vermelho do meu pai, o arroto da minha tia Inácia, as casinhas de boneca debaixo da mesa com a Leidinha, desfazer e refazer o penteado com pano na cabeça de minha amiga velhinha, Margarida, os olhos azuis da minha vó quando ainda enxergavam os horizontes, o peito da minha vó, o cheiro, as pelancas, os cabelos, o amor da minha vó, a minha vó, as brigas com Lucieni, odiar Lucieni, amar Lucieni, comer arroz com o Rafa, invejar os dinheiros de embalagem de cigarro do Rafa, a barriga dele, maior que o corpo.
A infância é doce, é doce como o cheiro do medo da sandália do meu pai, dos planos de pular o muro do quintal e ganhar o mundo, na próxima ameaça de surra.
Tudo é doce e bonito como nossos nomes no material escolar com a letra da minha mãe.
Tudo em volta das nossas camas é saudade da inveja que sentíamos dos meninos que tinham bicicleta, de quem viajava pra outro país (cidade), de quem usava Neutrox, de quem tinha piscina, de quem atravessava a rua sozinho, de quem jogava carimbada na rua com os amigos, de quem tinha amigos.
A infância é um doce de leite na casa de Aninha, doce e travosa como o doce que sobrava no tacho seco e sem cor; é gostosa como o leite em pó que ganhávamos na escola e que era terminantemente proibido com açúcar, em casa, guardado-cuidadosamente-  na última prateleira do guarda comida.
A infância era doce como um mar de medos que só eram vencidos no colo da minha mãe. Mas tudo em volta de nossa cama é saudade...
Tia Inácia não pendura mais as calcinhas de pano no varal da minha casa, nem arrota depois de cada copo de água, nem engole comprimido mais, a seco. Tia Inácia só dorme, e dormir  o resto da vida não tem graça. Não tem mais graça nem toyotinha, não tem mais Lucieni, não tem mais lagos nos longes da minha vó. A vida agora é uma volta em torno do nosso terreno na Rafael Soares. Tudo em volta de tudo dá uma volta completa no mundo de medo, um medo tão profundo que nem o colo da minha mãe, nem a letra dela na caixinha de lápis de cor faz com que nos sintamos como nas mãos de Deus.
A minha alma amanheceu turva. A minha e a dos meus irmãos, e a fé é a sombra disso.

1 Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo,
2 por quem obtivemos também nosso acesso pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus.
3 E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança,
4 e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;
5 e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
6 Pois, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios.
7 Porque dificilmente haverá quem morra por um justo; pois poderá ser que pelo homem bondoso alguém ouse morrer.
8 Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.
9 Logo muito mais, sendo agora justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
10 Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.

Romanos Capítulo : 5