segunda-feira, 31 de outubro de 2011

sábado, 29 de outubro de 2011

Bom dia de um fingido nº2

12:35


Carta ao próprio remetente.


Ninguém sabe, mas eu sinto uma inveja rude e desastrosa dos corpinhos mansos daquelas moças. São tão desnudos, mesmo de saia. Vestidos cheirosos em tons de nude. O único tom nude que usei na vida foi na época da hepatite: meu rosto em um único mês ficou tão pálido que vultava uns trinta tons de bege. Contraí a icterícia aos 12 anos e minha memória ainda é fresca: mamãe repousava na janela minhas roupas pro Sol secar a moléstia antes de lavar. Eu era só e isso me bastava. Isso e os 20 litros de sangue que minha enfermidade me obrigava a perder pro laboratório, toda semana. Era como sofrer um acidente a cada 7 dias. Estava numa prisão e sem visita. Eu estava bem. Companhia enfada e todo doente precisa de descanso."desculpa de amarelo é comer barro" -Tia Augusta.

Eu não costumava trocar minhas duas barbies falsas nem minha caixa de televisão cheia de móveizinhos de madeira por amigos de rua. Ficar em casa era o programa mais interessante que havia, depois do programa da Mara. Era seguro, limpo e livre de arranhões e puxões de cabelo.
O amor.. O amor foi precoce na minha vida. Lembro data, mês, ano, talvez até dia em que meu estômago começou a sentir a primeira agitação, sem significado obvio, das tripas. Era o aviso. Não lembro com qual intenção, mas eu ficava na janela simulando olhares trocados com os corpos desconhecidos que vagavam na rua. Mentirosa eu era. Tinha um milhão de avisos, ligações perdidas, postais, declarações em papel de carta na minha caixinha do correio, bilhetinho preso nos ímãs da geladeira, tudo auto enviado.

Mês passado recebi noticias de uma prima distante, daquelas que não se sabe se ainda é prima. Tá na Europa... vivendo um amor casual daqueles que se encontra em um café, lendo Proust e ouvindo de forma critica e magistral o som do nada. Mas o meu amor é marginal, anda pelas ruas vestindo o que foi de ontem, arrotando os fiozinhos de energia onde os passarinhos pousam sem medo de choque, meu amor amarra um cinto de flores na cintura e sai distribuindo mudinhas de hortênsias pelas ruas pobres da minha cidade. Em seus pés cabem o caminho pra fora da morte, nas mãos uns vinte anéis de ouro, a boca não fecha, ele mastiga a poesia de dentes abertos, sem vergonha, sem medo. Meu amor é tão grande que me machuca, mas eu nem ligo. O meu amor... o meu amor não existe.

Aquela foto em frente à torre Eiffel com a mão no peito do respectivo, ostentando o anel de noivado pesando duas vezes a massa da mão. Eu não queria uma vida dessas pra mim. Longe disso. Se Deus ouvisse a todos os meus pedidos, eu estaria muito bem hoje em dia e sozinha. Eu tenho um projeto de vida e nele não está incluso me perder com nenhum amor  tomando vinho e suspirando declarações  na terra do Croissant. Amor pra mim, é outra coisa. Amor é primavera, mas nem tudo são flores. Além do mais, Primavera não é uma estação muito feliz, me lembra Gídio e uma dessas conversas bem maciazinhas de manhã cedo. Não sei dos outros costumes, mas aqui no interior, as pessoas costumam chegar na casa dos outros às cinco da manhã. Nos dias de feira cinco toyotas fazem a linha sítio-surubim, e a primeira partida é exatamente às 4:35. (25 minutos do sítio a Surubim).

Meio dia sem freio e uma tentativa de escapar da morte falha... Só há uma maneira de se livrar da morte: atravessando-a até o outro lado.

 "Uma conversa tão macia e nem em casa chegou mais..."
o amanhã não pertence a nenhum de nós, não cabe prognóstico. "Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal" (Mateus 6:34. )

Gídio era um bom homem descendo as ladeiras sinuosas de Taperinha "Eu vou 'arrenovar' meu amor com Domerina/é, Domerina, é dó rimar..."  lamentei tanto sua morte... não chorei por falta de tempo. A vida é breve, é corrente como um rio. Não há tempo pro sim. É como tudo foi programado. E como se ainda importasse, um dia eu ouvi a tristeza batendo na porta! mas numa voz preguiçosa, gritei: Demore-se lá quem é!


Esperança não é esperar, é ter fé. Nasci pra morrer.

Olê não chore, não
Olê não vá chorar
Que seu amor foi-se embora
Mas destá, destá destá...






Lizandra Onilza Maria do Juá Silva dos Santos participava do grupo de tricoteiras
da igreja de são sebastião, formado por pensionistas e aposentadas que esperam receber valores devidos pelo Estado. Foi servidora da Secretaria Estadual da Saúde. Natural de Taperinha, Zona rural (PE), deixou três filhas e um filho, três netas e dois netos.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Nº 7

Amor não é conquista, queridinha,
É ganho
Ser amado nunca foi mérito, é presente
Sorte em jogo do bicho,
Dinheiro achado na rua,
Sol depois de chuva.
Receber amor é como acordar no dia de Natal,
Como deitar num colo seguro
Meu amor...
Meu amor é como um parto
Prematuro.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Carta nº 4.000

Querida,
Lhe dedico um envelope
Com muito carinho e amor
Não repare as noticias vencidas
Nem os erros singelos que dou.
Uma folha adormece por anos
Com as letras, o detalhe,
O suor
Te escrevo e finjo que mando
Desmaio entre os papéis
E só.
Os dias são sempre contados
As linhas os enfeitam
Em vão
Por quantos amei e fui amado...
Ou decerto perdi a razão...
Esta
é uma carta de infinitos pecados
Remetente de sim para não
Que um extinto não merece agrado
Nem a luz divina do perdão.



Adeus, querida, adeus...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

El dia en que yo me quiera

Cuando me aburro en sentir
Las veces que desperto
Y no estoy en mi
Me muero mil veces
Y ya mori
Cómo un castigo, y por si solo
Me sacasse las piernas de seguir.
Me echo de menos
Y nadie más lo siente
Me vuelvo invisible a dormir
Y a la mañana siguiente,
Los pájaros , en sus viveros
Esmolan sus sonidos para mi.

sábado, 15 de outubro de 2011

Que pena pequena, pequenininha

Quando aquelas pernas de branco
Cruzam,indiferentes, a Avenida Almirante
Meus olhos invisiveis suspiram:
Deus, que mesma cidade tão distante...

sábado, 8 de outubro de 2011

valsinha de ninar

O céu amolece o azul
Que de espanto,
Descobre o forro;
Senhor, se me amas tanto
Me chama
Que eu morro...