sábado, 24 de agosto de 2013

Gangungo, 13 de Setembro


Saudações sem fim,


Querido Leopardo, é com absoluta nostalgia que pergunto como anda você.
Trago novidades desde o Natal: a loja não vai tão bem como em Novembro, embora não seja esse o real motivo desta. Gostaria mesmo era de ser como os elefantes e partir quando tudo vai triste, porém, tudo na vida é entender, é uma questão de ordem ou de lógica, mas deixo por sua livre interpretação.
Tenho plantado em minha casa um pé de manga por dia, dizem que dá sorte quando cresce, só que  ainda não compreendi, meu querido, eu não entendo o mundo, não entendo as coisas, eu não entendo a sequência das coisas. Eu sou, Leopardo, um perdido. Às vezes, pouco antes de dormir, eu penso que a Ana morreu. Mas onde ela estaria agora? Deus a está castigando ou ele a estaria  santificando neste preciso momento? São várias, meu saudoso amigo, as intrigas, as dúvidas, as penas. A memória se perde quando morremos? "não estejais ansiosos por coisa alguma", contudo, se sou paciente, esqueço, pereço. Pra mim, a questão é de localização, de reconhecer o lugar pra se estar, mas os meus pés têm asas. A minha alma flutua sem saber pra onde vai. Você compreende, Leo, a inocência? ou devo dizer ignorância? por isso não sei e por isso a omissão nas brincadeiras de manja. Eu não sabia o que era coerência, meu querido, e lhe peço perdão a vida toda se você me abrir essa brecha. Minha alma toda vida flutuou sem saber pra onde quer ir, e é sempre outro lugar que não o que estou agora. Não há caminhos para a volta, meu amigo. Em tudo sou falho, desde o meu acordar. O que haverão de me confiar e por quê?  Este mundo não é meu. Nada é meu. Meus pés caminham sozinhos sem saber se querem chegar ou não em algum lugar. Há um travo na minha goela, há um demônio na minha cabeça e eu me perco, perco tudo até as chaves da minha casa, perco o ônibus e as horas, perco minhas roupas. Eu não lembro onde deixei o meu rádio antigo. Tenho olhos, mas não enxergo, eu minto assim como quando mentia que tinha feito a lição de casa ou que havia acompanhado o ditado, na 2ª série. Quero correr, mas tenho medo, quero morrer e é segredo. Eu não caibo em mim, mas não é uma questão de transbordar. Eu não caibo por folga, por sobra. Às vezes sinto que não penso, às vezes não sinto nada, e neste momento, nem isso nem aquilo. E para onde hei de ir quando não estou? serei eu um dos escolhidos ou serei só um esquecido na grande procissão de Deus?
Perdi as contas de quando quase morro no meio fio de uma parada de ônibus, num arrastão na feira, num atropelamento na Agamenon, num suicídio do 4º andar do Rafaela. Todos os dias eu desisto, meu amado amigo, e você conhece isso tão bem quanto eu. Não sei dizer as horas, não sei dar informação na rua, não posso chegar na minha casa, porque estou perdido, e morre-se um pouco ao se perder nas pequenas coisinhas do dia a dia. Por isso estou mandando este apelo pra você me socorrer. Estou implorando um conforto, Leopardo. Eu sou um doente, a minha alma tem um câncer.





Responde, pago o selo.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Manhãzinha

Acordo
E ainda é ontem,
Minha casa ainda existe.
Tenho pernas para a rua
E olhos pro horizonte
Mas sou triste.