terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

(des) man...chan-do-...se...



[...]

Adorava a certeza de ser a preferida e dona principal de todos os abraços
e beijos (quando era criança era a "maior dona")
e quando vi aqueles ombros caídos quase se escondendo na sombra da cortina,
andei depressa e fingi começar a sessão de abraços,como se precisasse dar inicio pra que
ela viesse me encher de tanta atenção...
ao sentir aquele alvoroço desconhecido,virou-se e quase não querendo,inclinou a cabeça perguntando quem era.
Eu ignorei,como se estivesse tudo bem,e não tava a fim de brincadeiras,apertei aqueles ombros meio fracos com uma tristeza meio agoniada,ou raiva,eu num sei,e depois de tanta obstinação
ganhei um cheiro meio pra fora,como quem prende a respiração e depois solta,
mas já não o mereci em meu nome,
foi um cheiro forçado de quem não aguenta mais tanta insistência
e faz logo pra ficar livre.
Ainda insatisfeita,levantei a sua mão e encostei no meu cabelo,
e sem precisar pensar pra saber a reação que viria em seguida,esperei
aquele velho sermão...: "mas minha filha,o que você deixou que fizessem com o seu cabelo...?"
mas a única expressão que eu vi e que é tão difícil de descrever,foi daqueles olhos.Apenas um par de olhos no sentido mais físico da palavra.
Olhos cegos,que me desprezavam como uma estranha desinteressante.
ela estava cega, e mais cegos que ela e seus olhos ficaram os meus cabelos,
as minhas mãos e a minha alma que ia perdendo o brilho até chegar na cor
que é a cor pura,sem mais enfeites,sem mais vida,sem mais nada.
saudade
sal
salgada
demais.

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